Em um pequeno vilarejo, viviam dois irmãos. Haviam sim outros irmãos na família, mas não como esses dois.
Enxergavam além do dia-dia da pequena cidade. Viam o mundo como em todo, porém em grande riqueza de detalhes.
Cada um ao seu modo.
Eram diferentes, complexos, únicos.
Buscavam respostas.
"Por que?" - perguntava o mais velho. "Como é possível o nascer do sol? As estrelas? As árvores?As montanhas? As pessoas?"
"Como é lindo!" - exclamava o mais novo. "Como é lindo o nascer do sol...a luz da lua...o mar...o mundo"
Intrigado, o mais velho perguntava a todos à sua volta. Que muitas vezes, cansavam-se de sua companhia perturbadora. "Não sei...sempre foi assim" "Como vou saber? Deus fez assim e pronto"
Sorridente, o mais novo apontava para todos os lados: "Vejam!! Sorriam!! Como tudo pode ser tão perfeito?"
Ninguém via nada de diferente, nada perfeito, nada intrigante. Simplesmente acordavam e comiam, trabalhavam, bebiam, perambulavam sem saber ao certo o porquê. A não ser os dois irmãos que mantinham diálogos incomuns entre si.
"Como será dentro de nós?" Perguntou certa vez o mais velho ao mais novo.
"Com certeza, é cheio de amor, esperança e anseios por ver o que virá" Respondeu prontamente o mais novo.
"Como nós funcionamos? de que modo a vida pode ser explicada?"
"Simples...nós pensamos, agimos, experimentamos todos os tipos de sensações que o mundo nos permite. Depois, fazemos tudo de novo, como se fosse a primeira vez. A primeira vez que vemos um por-do-sol, o primeiro livro que lemos, o primeiro desgosto que enfrentamos, a primeira vez que nos deixamos ser atingidos por uma onda na praia. Tudo de novo, de novo e de novo."
"Como estamos aqui em baixo e vemos as estrelas, tão distantes, em diferentes tamanhos e tonalidades..o que tem além dessa abóbada brilhante?"
"Não posso afirmar...mas eu sinto."
"Mas, não quero sentir. Quero saber. Preciso saber."
"O que tem lá em cima, é o mesmo que tem dentro de nós"
"Como pode??"
"Não sei...eu sinto"
"Também não sei, talvez não nos seja cabível saber. Mas de certa forma, não perco as esperanças de ter minha curiosidade saciada"
"Viu? Tem esperança dentro de você"
"É verdade, não havia pensado sobre o que havia dentro de mim dessa forma, mas de outra. Talvez não tão importante..."
"Importante, sim. Não se preocupe, você saberá um dia"
"Quando? Em breve?"
"Quem sabe? Talvez no dia em que você alcance esse conhecimento, você já não seja mais o que é hoje."
"Isso é bem provável"
"Anseios..."
"Isso é que temos dentro de nós"
"Acho que enfim, começamos a nos ententer"
"Um universo de sensações e sentimentos, tão grande quanto o manto negro cintilante que nos cobre"
"Estamos aqui e lá, todos ao mesmo tempo"
"Somos o infinito e somos um"
Enquanto isso, os dois irmãos contemplavam o vilarejo do alto de um monte. Tal qual fazem os gatos de cima dos telhados. O sol se punha, e fazia uma brisa suave e delicada.
"Aceita uma taça de vinho, meu caro?" ofereceu sorridente o irmão mais velho.
O olhar maroto já tão conhecido deu uma resposta positiva ao convite. Passou braço por sobre os ombros do irmão, desceram a colina e felizes misturaram-se aos demais moradores da cidadezinha, a falar de coisas tolas e sorrir após repetidas taças daquela bebida saborosa e adocicada. Mas, para eles, o mundo ainda continuava incrivelmente intrigante e maravilhoso...
domingo, abril 29, 2007
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3 comentários:
E me maravilho com vc, pequena curinga!
eu quero um livro e um autógrafo teus... pois cada vez mais me maravilho e me intrigo com o que vejo [e leio!]
Meus Deus...obrigada, mas não era para tanto :)
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